Dividir o mesmo teto com quem antes era o namorado supercarinhoso, atencioso e romântico parece ser uma idéia genial. No começo, é mesmo o maior clima de encanto. Mas, depois de algum tempo (às vezes nem muito!), ele não se comporta exatamente como você esperava e o príncipe acaba virando sapo. ‘Opa! Foi com esse homem que me casei?'. Pois é, se antes era ‘benzinho' para cá, ‘te amo' para lá, agora não tem carinho nem no final de semana, porque o maridão anda muito ocupado assistindo o futebol de domingo. Sexo? De duas vezes por noite passa para uma por mês e olhe lá. O marido ficou preguiçoso... e gordo. É quando, somando todas as mudanças que ele trouxe no pacote do casamento sem você esperar, o ‘era uma vez' pode virar fim. Desistir ou insistir? Veja no que essa história pode dar!
Da água para o vinho
A de Gisele Aguiar*, advogada, não teve final feliz. Ela bem que tentou, durante três anos, entender o que se passava na cabeça - e nos atos - do marido, mas a mudança drástica do homem apenas uma semana depois do casamento foi demais para ela levar adiante o peso daquela relação. Nem dando uma de atleta! Na primeira semana de casamento, ela viu que o casal tinha dívidas até o pescoço e resolveu usar uma reserva que tinha para não começar a vida a dois com o pé esquerdo. "Foi um erro. Sem dinheiro nenhum, fiquei totalmente dependente dele, que encontrou a chance de me controlar", conta Gisele. "Ele falava que eu dava mais atenção para os meus amigos do que para ele, ficava ouvindo atrás da porta quando eles me ligavam, quando a gente marcava algo ele nunca queria ir junto, mas também não queria que eu fosse e por aí vai. Só que, quando a gente namorava, não era assim. Quando eu saía, comunicava que estava saindo e pronto, não tinha problema. Depois, nem me deixar sair ele deixava!", espanta-se Gisele, que não deixou de fazer suas coisas por causa do marido.
“Casamento é isso mesmo, um namoro e aprendizado eternos. Tem que buscar surpreender, seja com presentes, bilhetes, torpedos, uma lingerie nova. Senão as pessoas vão ficando acomodadas mesmo”
Com menos de uma semana de vida matrimonial, a advogada conta, porém, que já pensava ‘o que eu fiz da minha vida?', mas, O.K., bola para frente. Só que a bola nunca entrava no gol e passava longe da trave. A mudança do marido foi radical. "O bonzinho virou controlador. O amigo, adversário. E não tinha conversa, porque ele se achava sempre certo. Sabe aqueles homens que pensam que a mulher tem que viver só para o marido? Pois é, o meu era - ou se tornou - um deles", diz Gisele. "Talvez tenha fingido ser bom partido só para a gente se casar, porque, confesso, eu fugia da raia", ri Gisele, que descobriu que já não valia mais a pena lutar pelo casamento quando o interesse sexual acabou por completo.
A advogada Márcia Meireles* passa pelo mesmo dilema. "Ele mudou no sentido de estar mais acomodado, não querer sair tanto, ser menos carinhoso, beber demais", conta Márcia. No entanto, ela diz que a mudança foi gradual, que no início é tudo muito bom, vai tudo muito bem, mas com o passar do tempo aparecem os problemas. Outro, aliás, era a sinuca que o marido freqüentava todo santo dia depois do trabalho, chegando sempre muito tarde em casa. "Eu trabalhava e, quando chegava em casa, ainda tinha que cuidar das crianças, fazer o trabalho doméstico. Me sentia ‘viúva', sem ter um companheiro com quem conversar, já que ele estava na sinuca, inclusive nos finais de semana. Passear com a esposa e filhos? Não dava, estava cansado!", lembra a advogada.
Quando ela resolveu fazer outra faculdade, piorou. O maridão dizia que ela não se distraía por opção própria. E se chega ao ponto de um não entender o que o outro deseja, pronto, está armada a confusão e qualquer coisinha rende falatório e reclamação. "Ele não entendia que eu encontrava tempo para me divertir, sim, só que eu queria me divertir com ele também! Volta e meia era uma discussão e até cheguei a pensar em me separar. Eu pensava (e dizia) ‘não foi para viver assim que eu me casei! Eu queria compartilhar, mas na nossa vida só existe dividir'", conta.
Melhor que a encomenda
O marido de Glaucia Cristina Mathias, designer gráfica, também mudou. Mas, pasmem, para melhor! Quando solteiro, dependia muito da mãe e Glaucia precisava "disputar" atenção e espaço. "Eu tinha que respeitar, mas, agora, depois de casado, ele está muito mais preocupado comigo. Até o sexo está muito melhor do que na época do namoro", anima-se. "A cumplicidade, o respeito é muito grande. Sabe o que é gostoso? Ouvir seu marido dizendo que você é perfeita, que não tem do que reclamar. Acho que por se sentir assim ele faz de tudo para me agradar e me deixar feliz. Digo que éramos como duas peças de um quebra-cabeças que estavam frouxas e que se encaixaram, perfeitas, depois do casamento!", derrete-se.
Segundo o psicólogo e terapeuta de casal Eduardo Yavusaki, do Instituto H. Ellis, em São Paulo, não se pode dar bobeira quando o assunto é desleixo. "Homem é um bicho meio estranho. Depois que as coisas estão sob controle, que ele já conquistou a mulher, vem o comodismo. O homem abandona aquele sonho que a mulher tem de viver o romantismo". Segundo ele, é disso que as mulheres mais reclamam. Da falta de carinho, carícias, beijos. Mas, segundo Eduardo, não tem colher de chá: as mulheres também mudam depois do casamento e podem se tornar vítimas do que elas mais criticam nos maridos: acomodação.
Contra esse mal, porém, a cura é simples: tem que manter a relação gostosa. "Se a rotina conjugal já é difícil por si só, imagina sem o tempero do romantismo! Até sexo, o tesão, fica abalado, o que pode abrir portas para terceiros ou terceiras na relação. Por isso, se o casamento não estiver legal, mesmo que seja uma besteirinha te incomodando, senta e conversa com o seu homem. "Os homens não são muito chegados em discutir a relação, mas com razão, porque não é uma questão de discutir, mas de falar sobre", garante o terapeuta. "E não só nos momentos ruins! O casal deve conversar sempre sobre a vida a dois, principalmente quando está tudo bem, porque, quando se espera pela crise, pode ser tarde demais. Às vezes ela não deixa nem espaço para palavras", aconselha.
Glaucia Mathias foi rápida no gatilho. O marido mudou para melhor, mas, no começo, começou com um leve deslize, diminuindo a quantidade de vezes que dizia ‘eu te amo' para a esposa. Ela se sentiu incomodada e logo deu um jeito na situação, explicando que não era porque tinham se casado que a freqüência das palavras carinhosas deveria mudar. "Casamento é uma conquista constante. Não é uma aliança no dedo que vai mudar as coisas. No dia seguinte, tudo pode acontecer", acredita. "Mas, conseguimos. Está tudo como era antes! Ouvimos ‘te amo' um do outro, sentindo que vem de dentro e não da boca para fora, fazemos agrados, nem que seja levar um chocolate de surpresa. Enfim, o importante é mostrar que um ainda se importa com o outro", acredita a designer.
Jogue!
A psicóloga Eliete de Medeiros, tira o chapéu para atitudes como a de Glaucia. "Casamento é isso mesmo, um namoro e aprendizado eternos. Tem que buscar surpreender, seja com presentes, bilhetes, torpedos, uma lingerie nova. Senão as pessoas vão ficando acomodadas mesmo", alerta Eliete. "O homem é um ser visual, então a esposa tem que estar sempre bonita, bem cuidada, sem deixar a vaidade de lado. Já a mulher é auditiva, ou seja, tem sempre que ouvir um elogio, palavras de carinho", completa. E se o dia-a-dia for muito corrido para namorar, combinem pelo menos alguns dias da semana para sair etc. Foi o que fizeram a advogada Márcia Meireles e o seu marido. "As sinucas de todos os dias passaram a ser das terças e quintas. As segundas, quartas e sextas são nossas! Os fins de semanas, da família e, às vezes, só nosso", orgulha-se a advogada. Mas não se esqueça do elemento surpresa! Já pensou? Uma ida ao restaurante pode virar uma noite apimentadíssima onde vocês quiserem!
Portanto, nada de virar reclamona de carteirinha. "O homem desiste", garante Eliete de Medeiros. Sem contar que não existe essa história de culpa de um ou do outro pela mudança. "A culpa é dos dois, não adianta entrar num processo de acusações mútuas. A solução é ver o que mudou, tentar reverter, mas também estar ciente de que cada um tem suas imperfeições e que você vai conhecer as do parceiro mais a fundo quando estiverem morando juntos", ressalta o terapeuta Eduardo Yavusaki. "Não dá para casar achando que aspectos negativos do outro não vão aparecer, porque vão. O erro é ficar criando falsas expectativas", avisa.
A advogada Márcia Meireles sabe bem disso. "É normal acontecerem certas mudanças, tanto nos homens quanto nas mulheres. Eu mesma, tem dias em que estou cansada demais para conversar ou sair. Principalmente naqueles dias... O mau humor impera, não tem jeito! Mas não se pode fazer disso um hábito", frisa. Segundo ela, para se ajustar à vida a dois e às mudanças do parceiro, é preciso muita paciência e companheirismo. "No entanto, não se anule. É fundamental que você respeite a si mesma, sem ferir a sua individualidade", alerta Márcia. Já viu, né? Casamento é uma constante negociação, um jogo - o casal tem que jogar, saber ouvir, falar e também ceder em busca do equilíbrio. Porque mudar, tudo e todos mudam e, convenhamos, ainda bem!